Máximas, Pensamentos e Reflexões
do
Marquês de Maricá

Introdução
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Página dos Provérbios

 

S

Sabei escusar o supérfluo, e não vos faltará o necessário. [238]

Sabei sofrer, merecereis gozar. [2406]

Sabemos melhor queixar-nos que agradecer. [2012]

Sabemos pouco da vida presente, e da futura muito menos ou quase nada. [2550]

Sabemos qual foi o nosso princípio, ninguém sabe qual será o seu fim. [1636]

Sabemos que ignoramos, mas é impossível que conheçamos o quanto. [2164]

Saber viver com os homens é uma arte de tanta dificuldade que muita gente morre sem a ter compreendido. [1037]

São as plantas humildes as que produzem mais belas flores. [1933]

São benfeitores da humanidade e promotores do genuíno progresso os que resumem em breves sentenças as grandes verdades, regras e preceitos da vida humana. [1637]

São caluniados os que não podem ser censurados. [1429]

São dois grandes preservativos de males, a vergonha na mocidade, e a prudência na velhice. [2006]

São estéreis nos homens a primeira e a última idade, e produtivas as intermédias. [2690]

São idades fabulosas as da puerícia e adolescência, heróicas as da juventude e virilidade, racionais as da madureza e senectude. [2585]

São incalculáveis os benefícios que provêm às nações da incerteza do dia e ano de nossa morte: esta incerteza corresponde a uma espécie de eternidade. [485]

São infinitos os meios de que a Providência Divina se serve para chegar aos seus fins, muitos deles que pareceriam à ignorância humana adversos, operam com maior eficácia e prontidão. [2694]

São inumeráveis as pessoas felizes sem o saberem, ou que o sabem somente porque lho dizem; isto sucede especialmente a quem tem sofrido pouco em sua vida, ou aos que gozam de muitos bens sem lhes custar trabalhos nem cuidados. [1635]

São inumeráveis os Céus, cada mundo tem o seu privativo, abrilhantado também de estrelas colocadas ou esparzidas por diverso modo do que se nos representa o que avistamos. [2597]

São muito raros os homens privilegiados a quem circunstâncias especiais elevaram a um grau de saber insólito e extraordinário; eles deveriam ser os diretores dos povos, mas infelizmente estes não os sabem compreender e apreciar, nem eles tolerar os seus caprichos e desatinos. [1617]

São muitos os bens da vida, que não sabemos nem podemos avaliar senão depois •de perdidos: a sua privação lhes serve de contraste e avaliador. [3064]

São muitos os homens que descontentes de si, e não podendo viver sós, importunam e incomodam os outros com visitas. [2582]

São numerosas as pessoas que empobrecem por quererem figurar de muito ricas. [1959]

São os bravos que devem governar os loucos. [1811]

São os grandes loucos que perturbam as nações, e os inumeráveis tolos que favorecem e aplaudem os seus desatinos e disparates. [425]

São os homens de maior inteligência os que vivem mais em um tempo dado de existência individual. [1394]

São os ignorantes os que presumem saber mais das cousas do outro mundo, e os sábios os que confessam saber menos ou nada a tal respeito. [2792]

São os termos abstratos os que nos têm levado a inumeráveis erros, e suscitado terríveis divergências nas opiniões dos homens; um Dicionário destinado somente a defini-los com exatidão seria de grande benefício à humanidade. [3093]

São os velhos os que melhor reconhecem a verdade das máximas e sentenças morais, falta aos moços a experiência para bem as entender e apreciar. [2819]

São poucos os homens que chegam à idade dos desenganos, a maior parte falece na dos erros, ficções e ilusões. [2739]

São sempre suspeitos os louvores dados à pobreza pelos ricos, ou pelos pobres. [217]

São tão limitadas as nossas forças mentais e corporais, que consumimos um terço da nossa vida em dormir para repará-las. [612]

Se a ignorância é feliz em não conhecer a gravidade dos seus males, por outra parte não os sabe prevenir, remover ou remediar. [1958]

Se a indústria humana nada faz e produz sem um fim e aplicação especial, como é possível que haja uma só obra ou produto da Natureza sem uma destinação benéfica geral ou particular. [2540]

Se a inteligência humana é fruto da organização cerebral, esta de quem é produto?. [1330]

Se a ventura embota o fio aos prazeres, a desgraça não faz outro tanto às dores e aflições. [325]

Se a vida é um dom de Deus para gozarmos, a morte, suposta a decadência do nosso corpo, é também outro dom para não sofrermos. [2433]

Se a vida é um mal, porque tememos morrer; e se um bem, porque a abreviamos com os nossos vícios? [440]

Se amamos a nossos pais porque contribuíram materialmente para a nossa existência, que amor não devemos a Deus, que concebeu o tipo do nosso ser, e o realizou no espaço e tempo pela sua paternidade criadora?. [2786]

Se as viagens simplesmente instruíssem os homens, os marinheiros seriam os mais instruídos. [448]

Se conhecemos tão pouco o mundo em que vivemos, que idéia podemos formar dos inumeráveis que mal avistamos!. [2821]

Se Deus não compreendesse também o Universo, este o limitaria deixando de ser imenso e infinito. [2599]

Se é terrível a idéia da morte ou da extinção da nossa individualidade corporal, que será da aniquilação total do nosso ser! A esperança de uma vida futura é instintiva e salutar. [2869]

Se este mundo é um hospital de doudos, como alguns deles o qualificam, sem dúvida os maiores são os que mais intrigam e se afanam para serem seus administradores ou enfermeiros. [1160]

Se fôssemos sinceros em dizer o que sentimos e pensamos uns dos outros, em declarar os motivos e fins das nossas ações, seríamos reciprocamente odiosos, e não poderíamos viver em sociedade. [745]

Se não fôssemos ignorantes seríamos impassíveis e imortais; a ignorância é a origem principal de todos os nossos males, convém portanto reduzi-la quando é possível a fim de que gozemos mais e soframos menos, o que se consegue com a cultura da razão, inteligência, pelo estudo e observação da Natureza. [2977]

Se não fôssemos passíveis não seríamos compassivos. [1560]

Se não fôssemos sensíveis seríamos impassíveis. [2831]

Se não houvesse loucos e imprudentes, grandes empregos ficariam vagos em certas crises e circunstâncias. [2172]

Se não podemos compreender o mínimo de uma flor ou de um inseto, como poderemos compreender o máximo do Universo!. [2853]

Se não podemos somar a Infinidade, nem medir a Imensidade, nem sondar a Eternidade, como poderemos compreender a Deus Eterno, Imenso e Infinito! [1833]

Se o homem não fosse passível, seria necessariamente imóvel e inativo. [286]

Se os animais trabalham para os homens, estes em retribuição são forçados a trabalhar também para os manter e pensar, sendo os seus serviços freqüentes vezes mais abjetos e penosos do que os deles. [2702]

Se os governos escolhem mal, os povos de ordinário escolhem pior. [970]

Se os homens fossem impassíveis seriam inativos e inamovíveis, não haveria motivo algum que os impelisse à ação e movimento voluntário. [2788]

Se os homens não fossem loucos, a história não teria materiais nem assunto para os seus trabalhos. [2616]

Se os homens não tivessem alguma cousa de loucos seriam incapazes de heroísmo. [1201]

Sê prudente e reservado, mas não misterioso. [1545]

Se pudéssemos chegar a um certo grau de ciência e sabedoria, nos tornaríamos impassíveis e impecáveis. [1999]

Se pudéssemos chegar a um certo grau de sabedoria, morreríamos tísicos de amor e admiração por Deus. [492]

Se pudéssemos conhecer e prever o futuro, não seríamos livres. [2151]

Se pudéssemos convencer os homens desta grande verdade, que os bons ou maus pensamentos, palavras e obras têm o seu fêmeo ou castigo correspondente na ordem física e moral deste mundo, muitos bens resultariam para a felicidade individual e social de tão salutar convicção; a virtude seria amada e observada como um meio seguro e infalível de ser feliz, o vício e o crime detestados pelos seus efeitos terríveis de pena, dor, miséria e desgraça. [1668]

Se pudéssemos prever o futuro, não seríamos livres; tal previsão pressupunha uma ordem fatal e inevitável de cousas, casos e sucessos, que não era possível interromper nem remover. [2847]

Se quando queremos mover os membros do nosso corpo, uma infinita multidão de átomos integrantes de tais membros obedece instantaneamente à nossa vontade individual, quanto é fácil deduzir deste fato o império universal que a vontade Onipotente de Deus deve ter sobre todo o Universo, e as suas partes mínimas e átomos infinitésimos, para os condensar, solidar ou rarefazer e reduzir ao éter imaterial, imperceptível aos nossos sentidos, criando e dissolvendo mundos, e dando formas infinitamente variadas às suas obras assombrosas e fenômenos do Universo. [3087]

Sede benfeitores ainda com o risco de fazer ingratos: a genuína beneficência escusa e dispensa a gratidão. [1723]

Sede econômicos e poupados: o que hoje despendeis em bagatelas faltar-vos-á amanhã para o necessário. [2188]

Sem a crença em uma vida futura, a presente seria inexplicável. [927]

Sem a loucura variada dos homens não haveria novidade ou variedade notável nos eventos morais e políticos deste mundo. [1814]

Sem a substância a que chamamos matéria, de que serviria a inteligência? esta só tornaria estéril, inútil ou inteiramente nula. [2749]

Sem alteração ou mudança no todo ou parte do nosso corpo não podemos sentir, gozar nem sofrer: a sensação é produto de uma alteração ocasionada por causa ou ação externa ou interna. [2862]

Sem as ilusões da nossa imaginação, o capital da felicidade humana seria muito diminuto e limitado. [22]

Sem desigualdade não pode haver harmonia nos sons, nas cores e nos homens. [1041]

Sem extensão não pode haver desigualdade: os espíritos são perfeitamente iguais por sua natureza imaterial; a variedade em suas faculdades e potências depende da diversidade dos corpos organizados que estão unidos, os quais promovem ou limitam a sua expansão e exercício. [2673]

Sem inteligência, trabalho, virtudes domésticas e civis não se alcança a riqueza, ou se perde em pouco tempo. [3066]

Sem o estudo das ciências naturais ninguém é sábio nem pode sê-lo: todo o saber vem de Deus, e se revela nas suas obras. [2629]

Sem os contrastes que a Natureza apresenta, os homens não poderiam conhecer nem avaliar as cousas e sucessos deste mundo. [2870]

Sem os males e necessidades da vida não haveria ofício, emprego, nem ocupação alguma para os entes vivos deste mundo, faltando-lhes motivos para ação, agência e movimento espontâneo no teatro deste mundo. [2835]

Sem os males que contrastam os bens, não nos creríamos jamais felizes por maior que fosse a nossa felicidade. [1275]

Sem prévia inteligência não aproveita a experiência. [1630]

Sem probidade e prudência pouco aproveitam talentos e ciência. [2507]

Sem referência a Deus toda a felicidade é inane ou incompleta. [890]

Sempre amanhece tarde para o homem diligente, e muito cedo para o negligente. [1907]

Sempre haverá mais ignorantes que sabedores, enquanto a ignorância for gratuita e a ciência dispendiosa. [507]

Sempre nos deleitamos mais em falar do que os outros em nos ouvirem. [1296]

Sempre nos escudamos com o bem geral, quando queremos promover o nosso particular. [1005]

Sempre nos reputamos melhores, e nunca piores do que somos. [578]

Sendo a Providência Divina infinita não admira que os homens a não possam compreender em toda a sua extensão, e a neguem ou recusem nos casos e acidentes mínimos da vida humana, que aliás lhe estão geralmente subordinados. [2816]

Sendo cada homem um original sem cópia, as suas enfermidades tomam também um caráter especial que difere em todos. [2719]

Sentimos satisfação no que fazemos por devoção, e coação no que executamos por obrigação. [2526]

Sentir e pensar são as duas faculdades essenciais da nossa alma unida a um corpo: sem a primeira a segunda não teria princípio nem exercício. [2451]

Ser cultor da virtude, é ter aliança com Deus. [1699]

Ser modesto é transigir com o amor-próprio dos outros homens. [1060]

Ser religioso é o atributo mais honroso e sublime do homem sobre a terra: é por este predicado especialmente que ele se distingue de todos os outros viventes: erigindo templos e altares a Deus, também de algum modo se diviniza. [534]

Sobeja-nos tanto a paciência para tolerar os males alheios, quanto nos falta para suportar os próprios. [660]

Sobe-se igualmente ao trono como ao patíbulo: dá-se em ambos ascensão e exaltação. [1879]

Sofrei privações na mocidade, e sereis regalados na velhice. [239]

Sofremos talvez mais pelos erros alheios do que pelos nossos próprios. [2412]

Somos atletas na vida; lutamos com as paixões dos outros homens e com as nossas. [746]

Somos benfazentes mais vezes por vaidade que por virtude. [466]

Somos como a mosca da Fábula no eixo do coche: pensamos que damos e dirigimos o movimento da fábrica dos eventos políticos, quando rodamos ordinariamente passivos na torrente de suas vicissitudes e revoluções. [1765]

Somos constituídos e organizados para este e não para outros mundos, devemos portanto ocupar-nos das relações que nos unem a ele estritamente, e não nos perdermos nas supostas e fantásticas de qualquer outro que não conhecemos, e de que não fazemos parte. [2928]

Somos constituídos para sermos ativos, e não sábios; a sabedoria no homem é uma excrescência monstruosa que de algum modo o separa da humanidade vulgar. [1211]

Somos de ordinário caridosos porque nos reconhecemos passíveis, como os objetos da nossa compaixão. [634]

Somos em geral demasiadamente prontos para a censura, e demasiadamente tardos para o louvor: o nosso amor-próprio parece exaltar-se com a censura que fazemos, e humilhar-se com o louvor que damos. [739]

Somos enganados mais vezes pelo nosso amor-próprio do que pelos homens. [681]

Somos fáceis em prometer, e difíceis em cumprir; prometemos por surpresa, e cumprimos com reflexão. [1417]

Somos fortes pela virtude, fracos e cobardes pelos vícios è crimes. [2676]

Somos humilhados freqüentes vezes vendo frustradas e iludidas as nossas esperanças e pretensões por exageradas. [2996]

Somos idênticos nas diversas idades quanto à nossa alma, mas não respectivamente aos nossos corpos. [2615]

Somos incomparavelmente mais felizes do que pensamos: tal seria o nosso juízo se refletíssemos profundamente na grande soma de bens de que gozamos, e na dos males que não sofremos. [1734]

Somos injustos exprobrando a muita gente erros, culpas e defeitos que são devidos especialmente à Natureza, sociedade e circunstâncias. [2987]

Somos mais inclinados a dizer mal que bem dos outros homens; o amor-próprio explica este mistério escandaloso. [1121]

Somos mais vezes instrumentos das circunstâncias do que agentes da nossa própria vontade. [1302]

Somos maus calculistas, receamos males que não vêm, e esperamos bens que nunca chegam. [2712]

Somos muitas vezes maldizentes para nos inculcarmos perspicazes. [512]

Somos muito francos em confessar e condenar os nossos pequenos defeitos, contanto que possamos salvar e deixar passar sem reparo os mais graves e menos defensáveis. [222]

Somos muito generosos em oferecer por civilidade o que bem sabemos que por civilidade se não há de aceitar. [229]

Somos passíveis pela vida, inofensíveis pela morte. [2442]

Somos propensos na mocidade a exagerar pela imaginação os bens que esperamos, e na velhice os males que receamos. [1646]

Somos sempre enganados sonhando, e freqüentemente acordados. [2743]

Somos simultaneamente escravos e senhores do tempo que a abstração humana criou, dividiu e classificou em anos, meses, dias, horas e minutos. [2762]

Somos tão avaros em louvar os outros homens, que cada um deles se crê autorizado a louvar-se a si próprio. [686]

Somos tão maus calculistas, que raras vezes conseguimos o que esperamos ou desejamos. [1918]

Somos tão vários nas nossas opiniões, quanto são várias as circunstâncias em que nos achamos. [673]

Somos todos afores e espectadores no teatro deste mundo, cada um executa diversos papéis no drama da vida humana, e nos damos reciprocamente aplausos ou pateadas nas variadas cenas em que somos representantes. [1628]

Somos todos invejosos, com a diferença somente do mais ou menos. [703]

Somos todos os viventes filhos de Deus, a sua paternidade criadora deu-nos o ser para nos fazer felizes. [2715]

Sonhamos dormindo, deliramos acordados. [1817]

Sonhei que admirando a lua cheia  na plenitude da sua luz reflexa, surgia em mim o desejo ardente de a visitar e conhecer de perto, quando uma voz sonora, mas de objeto não distinto, retiniu aos meus ouvidos. Pobre criatura! a tua ignorância te desculpa; sabe que cada um dos mundos da imensidade tem um sistema e construção especial; que os seus habitantes não podem existir em algum outro que não seja aquele para que foram organizados. O teu espírito tem de habitar e admirar inumeráveis orbes pela sucessão dos tempos e progresso da eternidade, mas somente com corpos privativos e adaptados ao sistema particular de cada um deles. A sabedoria do Onipotente sendo infinita, a variedade das suas obras é ilimitada, tudo o que ideou e produz na imensidade do espaço é original e sem cópia. Calou-se, e acordei assombrado com esta inesperada e portentosa revelação. [3081]

Subi a Deus na vossa ventura, Ele descerá a vós na vossa desgraça. [2487]

Subi devagar, chegareis ao alto sem cansar. [1804]

Subimos da vida sensual à intelectual, das idéias particulares às gerais, dos efeitos às suas causas, e do Universo material ao espiritual ou a Deus Onipotente Criador de tudo. [3018]

Subir aos maiores empregos do Estado não é sempre argumento de grandes e distintos talentos nos promovidos, mas freqüentes vezes da consumada estultícia ou velhacaria dos que contribuíram para tão injusta e escandalosa exaltação. [1318]

Sucede aos homens como às substâncias materiais, as mais leves e menos densas ocupam sempre os lugares superiores. [474]

Sucede freqüentes vezes admirarmos de longe o que de perto desprezamos. [258]

Sucede nas revoluções como nas loterias, a perda é de muitos, o ganho de poucos, e, em geral, os mais indignos. [1108]

Surgimos de uma Eternidade para entrarmos em outra: a vida humana é uma ponte entre duas Eternidades. [1674]


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